sexta-feira, 29 de agosto de 2008

vamos à missa

Na semana passada fui à missa. Gosto bastante de estudar os rituais que cada paróquia tem. Dentro de todo o ritual, há sempre uns rituaizinhos que cada santa terrinha ostenta. Visto de fora, as missas parecem ser todas iguais, talvez o deveriam ser, eu não sei, mas cada Padre lá impõe as suas manias. Penso que cada indivíduo terá a sua parte favorita da missa, eu tenho! A minha é quando o Sr. Padre se põe a arrumar a loiça. São precisos no mínimo 14 paninhos para limpar 2 cálices. Hão de reparar que é preciso técnica para manobrar tal colecção de bordados e rendinhas. Dobra e redobra o paninho, põe à direita do cálice nº1 volta e meia, dobra outro paninho, passa suavemente pelo cálice nº2, volta dobrar, coloca-se aqui e vai para ali. Ufa… Enquanto isto a plateia assiste em admiração profunda. Pelo menos eu assim o faço. Não me importo de ficar a ver tal demonstração de eficácia de limpeza de loiça religiosa. Contudo, fico a pensar, será que dava jeito aos padres terem uma whirlpool por baixo do altar? Era mais higiénico, não me convencem que apenas uns paninhos bordados com rendinhas, consigam limpar todos os germes das ditas loiças religiosas. Não me apetece falar da ASAE, mas podia. Será que aqueles paninhos têm um poder especial? Ou aliás, miraculoso? Será que os germes que andam por aí, pensam 2 vezes antes de se instalarem nos copos do Senhor? Cá para mim, é exactamente isso que se passa. Os germes não têm essa coragem. Deixam-se ficar pelos beiços dos acólitos e companhia. Seja como for, este fantástico ritual de limpar a loiça após a comunhão hipnotiza-me. Quando as igrejas compram essas loiças vão lá à paróquia fazer a demonstração de limpeza? Os cálices têm de ser brilhantes, para a minha hipnotização ser maior. Mas é com aquele jogo todo dedilhado e sistemático que me deixa extasiado. Quero fazer bordados com rendinhas. Quero ver um padre a limpar cálices com bordados feitos por mim. Espero que esta tradição de os padres limparem a loiça se mantenha. Não gosto nada quando alguns mais velhos se sentam, e ficam os ministros da comunhão a fazer o trabalhinho. Talvez, esses padres também ficam a apreciar o mesmo que eu… Se assim for fico mais descansado, pois para mim a missa só tem sentido se eu ficar a ver alguém a limpar os cálices daquela maneira. E quantos mais paninhos houver, melhor!


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

escritores de lápides

Há pessoas com cara-de-pau. E há também agentes fúnebres. Creio ser uma profissão em que é necessário, não ofendendo deliberadamente ninguém, ter a maior cara-de-pau de sempre. Vejamos, lucram com o infortúnio dos outros… certos membros do governo também o fazem, mas o emprego destas agências é assumido e respeitado. Esses membros do governo já não. Onde quero eu chegar? A lado nenhum provavelmente, mas receio que mais tarde ou mais cedo irei estar nas mãos destes agentes fúnebres. Regozijo-me a pensar em como seria a minha última cerimónia. Temos variadíssimas hipóteses. As mais tradicionais são o enterro e a cremação. Contudo penso que o embalsamamento será a qual com que me identifico mais. Na verdade gostava que me embalsamassem e me pusessem no hall de entrada da minha casa, ao lado do bengaleiro. Sempre gostei de receber visitas… A nossa vida é feita de etapas, e em cada uma delas, haverá sempre alguém que lucre com elas. Baptismo, a educação, faculdade, casamento, divórcio e eventualmente a morte… Parece-me justo que quando passamos por estas etapas, haverá alguém a lucrar, pois também, cada um festeja como quer, agora no nosso funeral, já me cheira a algo… Para já não compreendo porquê é que nos enterram com o nosso melhor fato! Se é para dormir para sempre não tem mais lógica ir com o nosso melhor pijama? E para quem é cremado? Sempre que vou a um churrasco envergo sempre uma camisa havaiana e um belo par de chinelos! Enfim, é de facto doloroso e penoso ir às compras para a cerimónia; escolher o caixão, a madeira, o acabamento, a urna… e também a lápide. A lápide será a nossa marca para a posteridade, convém ter um bom par de linhas em que se expressa o sentimento pelos que cá ficam. Gosto de pensar em como será a vida da pessoa que escreve os textos para as lápides. É provavelmente uma vida pacata e serena. Mesmo assim, estes senhores são os que têm ainda mais cara-de-pau. Penso que realmente o trabalho que fazem é venerável, por mim, em todas as lápides de familiares meus falecidos, o texto está sempre solene e conciso, mas, dentro da pacatez da vida de um escritor de lápides, existe sempre o momento em que expressam o seu maior potencial de cara-de-pauzice… O que será que se escreve na lápide de um hipocondríaco?